PORTO ALEGRE E A GRANDE ENCHENTE DE 1941 

O Rio Grande do Sul está enfrentando uma temporada de fortíssimas chuvas e enchentes generalizadas em grandes áreas do Estado. De acordo com o Governo do Estado, esta é a maior tragédia climática a atingir o Rio Grande do Sul em todos os tempos. Uma das áreas em situação crítica hoje é a região hidrográfica do Guaíba, especialmente a cidade de Porto Alegre. 

Conforme mostramos na postagem anterior, grandes bacias hidrográficas das faixas Sul, Central e Leste do Rio Grande do Sul desaguam diretamente na Lagoa do Guaíba, região que até pouco tempo atrás era chamada simplesmente de rio Guaíba. Destaco aqui os rios Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí. 

Em momentos de forte chuva, o aumento do volume de água nesses rios, fatalmente, atingirá o Lago Guaíba e vai provocar inúmeros problemas na região metropolitana de Porto Alegre. Grandes enchentes nessas cidades, especialmente na capital gaúcha, já são uma espécie de “tradição”. 

A maior enchente que já havia sido registrada em Porto Alegre data de 1941, quando o nível do Guaíba atingiu a cota de 4,76 metros – em condições normais essa cota é de 1 metro. A enchente que hoje está assolando a cidade superou essa marca e chegou os 5,76 metros. 

Registros históricos mostram que a cidade enfrentou inúmeros outros eventos de forte enchente. Em 1873, citando um exemplo, a cota atingiu 3,5 metros. Em 1928 foram 3,3 metros; 3,22 metros em 1936 e 3,46 metros em 2023. 

Entre os meses de abril e maio de 1941, o Rio Grande do Sul enfrentou uma sequência de 22 dias de fortes chuvas. De acordo com os registros meteorológicos, o volume de chuvas acumuladas no período chegou aos 791 mm. A contínua drenagem de toda essa água gradualmente provocou o aumento do nível do Guaíba e as águas rapidamente passaram a tomar conta das áreas centrais de Porto Alegre. 

Mesmo com o fim das chuvas, os fortes ventos de sudeste que varriam a Lagoa dos Patos mantiveram as águas represadas e dificultaram o escoamento da enchente. Isso provocou uma angustiante demora para o fim dos alagamentos na cidade.

Segundo os relatos da época, a população passou a se valer de barcos para circular no centro da cidade. Entre os locais mais afetados foram destaque o Mercado Público, a Prefeitura e a rua da Praia. Também há relatos de enchentes nos bairros Navegantes, Passo d’Areia, Menino Deus e Azenha. 

As estatísticas da época afirmam que 70 mil pessoas ficaram desabrigadas nesse evento. Aqui é importante citar que Porto Alegre tinha uma população de 272 mil habitantes no início da década de 1940. Da mesma forma que ocorre hoje, grande parte da população ficou sem os serviços de abastecimento de água e de energia elétrica. 

Essa rápida apresentação de uma tragédia que aconteceu há mais de 80 anos atrás e que guarda uma enorme semelhança com a tragédia que hoje está assolando grande parte do Rio Grande do Sul, mostra que eventos climáticos extremos vêm acontecendo há muito tempo e teimam em se repetir ao longo do tempo. 

Um forte El Niño, um fenômeno climático que cria uma série de problemas climáticos em todo o mundo, talvez esteja na origem das fortes chuvas que castigaram o Rio Grande do Sul no longínquo ano de 1941. Infelizmente, os meteorologistas só conseguiram comprovar a existência do El Niño há poucas décadas e nunca saberemos ao certo. 

A ocorrência de uma enchente no passado com magnitude muito próxima da tragédia atual também coloca em xeque o discurso de muitos ambientalistas que afirmam que a causa das fortes chuvas no Sul do Brasil são uma consequência do aquecimento global e das mudanças climáticas. 

Como sempre comentamos em nossas postagens, o clima está mesmo passando por mudanças em todo o mundo. Entretanto, jogar a culpa de tudo o que está acontecendo com o clima mundial nas costas do aquecimento global é um tanto precipitado e simplista. Os problemas existem – resta estabelecer cientificamente quais são os impactos. 

Por fim, afirmar que Fulano ou Beltrano são os responsáveis pela tragédia (lembrando aqui da fala da Ministra do Meio Ambiente que acusou literalmente o ex-Presidente da República de ser o responsável pelas chuvas no Sul) é puramente demagogia política. 

Nesse momento de tragédia, precisamos concentrar todos os nossos esforços e energias na ajuda as vítimas das enchentes. Isso é urgente. Procurar respostas ou supostos culpados pela tragédia poderá ser feito com calma no futuro. 

AS ENCHENTES DEVASTADORAS NO RIO GRANDE DO SUL

O Estado do Rio Grande do Sul vem sendo castigado por fortíssimas chuvas nos últimos dias. De acordo com os últimos dados divulgados pela Defesa Civil do Estado já foram contabilizados 83 mortos, 276 feridos e 111 desaparecidos. Essa já está sendo considerada a mais grave tragédia climática já vivida pelo Estado. 

Ao todo, 345 dos 496 municípios gaúchos foram afetados direta ou indiretamente pelas chuvas. Além de todos os transtornos provocados por enchentes, há relatos de desmoronamentos de encostas e soterramento de casas em áreas urbanas, além de bloqueios totais ou parciais em 163 estradas no Rio Grande do Sul. Centenas de milhares de pessoas estão sofrendo com o corte nos serviços de abastecimento de água, energia elétrica e de telefonia. 

Cerca de 100 municípios estão entre os mais fortemente afetados pela tragédia. Aqui destacamos cidades como São Francisco de Paula, Canela, Nova Petrópolis, Feliz, Roca Sales, Cachoeira do Sul, Rio Pardo, Vera Cruz, Venâncio Aires, Triunfo, Gravataí, Taquara, São Jerônimo e Canoas. 

Canoas é, de longe, uma das cidades mais castigada pelas águas. De acordo com os últimos relatórios, cerca de 60% do território da cidade, que tem uma área de 131 km², está coberta pelas águas da enchente. Essa área corresponde a aproximadamente 11 mil campos de futebol. 

O Rio Grande do Sul é o Estado mais meridional do Brasil e ocupa uma área total de 281 mil km², abrigando uma população de aproximadamente 11 milhões de habitantes. Cerca de 80% dessa população vive nas áreas mais fortemente afetadas pelas chuvas. 

Falando grosso modo, o Rio Grande do Sul pode ser dividido em dois grandes sistemas hidrográficos: as faixas Oeste e Norte onde encontramos a bacia hidrográfica do rio Uruguai; e as faixas Leste, Central e Sul, onde existem diferente bacias hidrográficas cujas águas correm diretamente na direção do Oceano Atlântico. 

O rio Uruguai nasce na Serra Geral na divisa entre os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O rio percorre cerca de 1770 km, primeiro no sentido Oeste e depois no sentido Sul, até atingir sua foz no Rio da Prata na Argentina bem próximo do delta do rio Paraná. 

Nas faixas Central e Leste do Estado encontramos as bacias hidrográficas de rios como o Jacuí, dos Sinos, Gravataí. Ibicuí e Caí, justamente as regiões mais afetadas pelas fortes chuvas. Uma particularidade dessas bacias hidrográficas é o fato de todas desaguarem diretamente nas águas do Lago Guaíba, na região onde encontramos a Região Metropolitana de Porto Alegre. 

No último domingo, dia 5 de maio, o nível do Guaíba atingiu a marca de 2,3 metros acima da cota de inundação. Como resultado, toda a área central de Porto Alegre está inundada, uma situação de deverá ser mantida enquanto as águas das chuvas continuarem fluindo na direção do Lago Guaíba. 

De acordo com informações dos serviços de meteorologia, essas fortes chuvas são o resultado da combinação de, pelos menos, três condições climáticas: intensas correntes de vento, um intenso corredor de umidade vindo da Amazônia e um forte bloqueio atmosférico.  

Só para refrescar a memória dos leitores do blog: a incidência do fenômeno climático El Niño provoca, entre inúmeras outras alterações no clima mundial, um aumento das chuvas no Sul do Brasil, na Argentina e no Uruguai. E o El Niño atual é um dos mais fortes das últimas décadas e pode ser um dos grandes responsáveis por chuvas bem acima da média no Sul do Brasil. 

Lamentavelmente, a combinação de todos esses fatores climáticos naturais e as consequentes tempestades no Rio Grande do Sul estão sendo usadas politicamente da forma mais mesquinha possível. Um exemplo foi a declaração da atual Ministra do Meio Ambiente numa entrevista, onde o ex-presidente da República foi categoricamente culpado pela tragédia. 

Mudanças climáticas, é claro, podem ter dado a sua contribuição para a magnitude da situação – a responsabilidade aqui é coletiva de toda a humanidade e vem sendo intensificada desde o início da Revolução Industrial em meados do século XVIII. 

Nesse momento de tragédia, onde pessoas estão correndo risco de vida, precisamos deixar esse tipo de picuinha de lado e todos precisamos nos concentrar em ajudar nossos irmãos gaúchos com urgência. 

Todo o resto é simplesmente resto… 

O AUMENTO RECORDE DAS QUEIMADAS NA AMAZÔNIA 

Estudo publicado pelo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, mostrou que o número de focos de queimadas no bioma Amazônia aumentou 154% entre os meses de janeiro e abril de 2024 quando comparados ao mesmo período de 2023. 

Esse estudo vem corroborar uma série de outros dados divulgados pelos meios de comunicação que já vinham sinalizando um aumento substancial das queimadas na Floresta Amazônica. Também reforçam a percepção de que os discursos políticos não estão ajudando a resolver o problema. 

Sempre que essa pauta volta a ser comentada aqui nas postagens do blog, é impossível não recordarmos o que ocorreu em 19 de agosto de 2019, dia em que uma “chuva negra”, caiu sobre as ruas da cidade de São Paulo. Essa chuva, que na realidade tinha uma cor mais para o chá mate, sofreu uma forte contaminação por grandes volumes de fuligem de queimadas que destruíam grandes extensões de floresta na Floresta Amazônica naquele momento. 

As notícias rapidamente correram o mundo e reações de líderes políticos, artistas e famosos de todo o mundo, além de “ambientalistas” dos mais diferentes naipes, foram instantâneas. Sem nos alongarmos muito, sempre costumo relembrar os nomes de Emmanuel Macron, Presidente da França, Greta Thunberg, aquela estranha garota sueca, e do ator norte-americano Leonardo de Caprio

Entre fotos estranhas (o craque portugues Cristiano Ronaldo divulgou fotos de uma grande queimada nos Pampas Gaúchos como se fossem da Amazônia) e uma enxurrada de informações erradas (lembro aqui das girafas da Amazônia). Todos falavam da iminente destruição da floresta e exigiam esforços internacionais para a preservação da Amazônia.  

Por conta da enorme repercussão negativa que a questão ganhou em todo o mundo naquele momento, nós publicamos uma grande série de postagens sobre a história e as questões ambientais na Amazônia. O objetivo era justamente mostrar que as coisas eram bem mais complexas do que as “lacrações” publicadas por todo esse pessoal. Essas postagens foram depois agrupadas no formato de um livro – A Nossa Amazônia

Sendo um pouco repetitivo, eu não costumo misturar problemas ambientais com questões políticas aqui nas postagens, mas, estranhamente, esses protestos ocorreram pouco tempo depois de um candidato de “extrema-direita” ter assumido a Presidência do país. O então Presidente passou a ser responsabilizado diretamente por cada foco de incêndio que surgia no meio da mata. 

Essa questão acabou sendo fortemente politizada ao longo dos últimos anos e se transformou numa das principais bandeiras de partidos de esquerda na vitoriosa campanha presidencial de 2022. Na posse, em janeiro de 2023, o novo Presidente assumiu uma série de compromissos com o objetivo de reduzir as queimadas na Amazônia. 

Desgraçadamente, as coisas parecem ter desandado de vez depois disso. 

Fugindo das questões relativas às disputas políticas internas aqui do país, meu estranhamento é com o silêncio dos defensores de outrora da Amazônia – onde eles estão? 

Cito um exemplo: há poucas semanas, o próprio Emmanuel Macron esteve aqui no Brasil – inclusive esteve no Estado do Pará e viajou de barco por um dos rios da região em companhia do Presidente brasileiro. Eu não me recordo de nenhuma entrevista de Macron falando de maneira contundente sobre o aumento do número de queimadas na região. 

Também não tenho notícias de Greta Thunberg há um bom tempo. Leonardo di Caprio parece estar envolvido em um importante projeto que visa salvar as vaquitas do Mar de Cortez da iminente extinção – o que é louvável. Entretanto, também não me recordo de nenhuma declaração do “bom moço” sobre o aumento das queimadas na Floresta Amazônica. 

As questões relativas às queimadas da Amazônia são muito mais complicadas e complexas do que tentam mostrar os discursos acalorados de muitos políticos. E para resolvê-las precisaremos de menos palanques e de muito mais trabalho e suor. 

Em tempo: precisamos sempre lembrar que a Amazônia não é apenas um paraíso da vida selvagem (incluindo aqui as “girafas”) e das águas – cerca de 25 milhões de brasileiros vivem dentro dos limites nacionais do bioma. Todas essas pessoas também precisam ter sua importância assegurada dentro dessa questão. 

AS CHUVAS TORRENCIAIS EM DUBAI

Desertos são grandes regiões cobertas majoritariamente por dunas de areia, com vegetação praticamente inexistente e com raríssimas fontes de água. 

Essa é provavelmente a primeira imagem que vem à mente da imensa maioria das pessoas quando ouve ou lê um texto onde a palavra deserto é citada. Eu confesso que essa imagem estereotipada me acompanhou por grande parte da vida. 

Eu imagino que essa imagem tenha ficado gravada em minha mente por causa de filmes com histórias de homens da Legião Estrangeira que assisti na infância. Também posso intuir que a descrição de Antoine de Saint-Exupéry perdido no Deserto do Saara nas páginas de O Pequeno Príncipe, o primeiro livro que li de capa a capa na infância, também tenha contribuído para isso. 

Só para esclarecer – muitos desertos apresentam extensas áreas cobertas por dunas de areia. Porém, existem diversos outros tipos de paisagens que vão desde savanas ou campos com vegetação rala até montanhas com picos cobertos de neve. De um modo geral, desertos costumam apresentar níveis de precipitação muitos baixos, o que costuma resultar em raras fontes de água. 

Surpreendemente, imagens estão correndo o mundo nos últimos dias mostrando Dubai, uma grande cidade cercada por áreas desérticas, completamente inundada por causa de chuvas torrenciais. 

Na última terça-feira, dia 16 de abril, Dubai recebeu um volume de chuvas equivalente a 100 mm, ou, trocando em miúdos, esse é o volume de água que costuma cair sobre a cidade ao longo de todo um ano. Na realidade, todo esse aguaceiro caiu em apenas 12 horas, algo trivial em regiões tropicais, mas raríssimo em uma região árida como é a Península Arábica. 

Na cidade de Al-Ain, a pouco mais de 100 km de Dubai, o volume de chuvas foi ainda maior – foram cerca de 256 mm de precipitação registrados em apenas 24 horas. 

Dubai ou Cidade de Dubai, como é normalmente conhecida, fica na costa Sul do Golfo Pérsico e é considerado o mais populoso dos sete Emirados Unidos, com 2,3 milhões de habitantes. A fama de Dubai cresceu muito nas últimas décadas graças à extrema ostentação de riqueza – os gigantescos arranha-céus da cidade, as avenidas largas, os automóveis luxuosos e os “jatinhos” particulares de seus moradores mais ilustres, têm acirrado a inveja e a cobiça pelo mundo afora.  

Ao contrário da imensa maioria das cidades localizadas em regiões desérticas, Dubai dispõe de muita água. Essa água não vem de fontes naturais, mas sim de gigantescas usinas de dessalinização da água do mar. A principal unidade de dessalinização de água do Emirado é a usina Jebel Ali, que produz cerca de 2,1 bilhões de litros de água potável a cada dia, um volume suficiente para abastecer três vezes a sua população. 

Essa inesperada tempestade provocou cenas jamais imaginadas pela maioria dos habitantes locais. Ruas e avenidas alagaram rapidamente forçando motoristas a abandonarem seus carros e a correrem em busca de abrigo em áreas mais altas. Casas, lojas e empresas foram invadidas por verdadeiros rios, uma imagem até então impensável para os locais, que são em grande parte descendentes de povos nômades do deserto. 

De acordo com os serviços de meteorologia essa chuva foi provocada por um poderoso sistema de tempestades que está atravessando o Golfo de Omã e a Península Arábica, e que está atingindo também o Sudeste do Irã. 

Algumas fontes chegaram a afirmar que essa forte tempestade foi produzida artificialmente por técnicas de “semeadura de nuvens”, um processo em que as nuvens são bombardeadas por produtos químicos lançados por aviões com o objetivo de forçar a formação de chuvas.  

O Centro Nacional de Meteorologia dos Emirados Árabes Unidos, instituição que possui toda a infraestrutura e pessoal especializado para realizar esse tipo de operação, entretanto, negou a realização de qualquer “semeadura de nuvens” nos últimos dias

Entre o espanto dos habitantes locais com o caos provocado pelas enchentes e as “teorias da conspiração”, o que ficou muito claro é que a badalada e rica cidade não possui sistemas de drenagem de águas pluviais preparados para suportar um volume de chuvas tão intenso. Nada muito diferente de cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Em tempos de mudanças climáticas, quando os padrões de chuva estão mudando em todo o mundo, esse é um seríssimo problema e que vai exigir grandes esforços e pesados investimentos do Governo de Dubai, o que não é necessariamente um problema. 

Já para pobres mortais de cidades do terceiro mundo, como é o caso de nós brasileiros, esse é um problema de difícil resolução…

A COP28, OU LEMBRANDO DO “GRANDE CIRCO” 

O ano de 2023 está quase acabando e nós não poderíamos deixar de fazer uma última postagem. Os últimos meses foram bastante complicados no trabalho e faltou tempo para manter a rotina de postagens diárias. 

Um tema que me incomodou bastante nas últimas semanas foi a COP28 – 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que foi realizada este ano em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. 

Como acontece sempre, essas reuniões atraem multidões de ricos, famosos e políticos “preocupados com o meio ambiente e com as mudanças climáticas”. Essa gente costuma engarrafar as pistas dos aeroportos com seus jatinhos particulares que deixaram um enorme rastro de poluentes fósseis em seus trajetos. Em suas bagagens trazem sempre seus discursos lacradores e quase sempre não apresentam nada que seja efetivamente prático.

Um detalhe que gostaria de destacar – o Brasil mandou mais de 1.330 representantes para o evento, gente essa distribuída nas esferas do funcionalismo público federal, estadual e municipal. Posso até estar sendo leviano, mas não vejo tanta gente preocupada com questões ambientais no dia a dia. Dubai é um destino turístico muito famoso e bem caro – ir passar uns dias por lá por conta do erário público é muito bom…

A pérola da COP28 foi um discurso do nosso Presidente da República que, acompanhado da nossa Ministra do Meio Ambiente, foi as lágrimas ao falar das questões ambientais. Nessas horas eu costumo ter vergonha de ser brasileiro. 

Quem tem mais de 50 anos de idade talvez se lembre de um antigo programa da televisão chamado O Grande Circo. A atração era estrelada pelo querido palhaço Torresmo e por seu filho Pururuca. Piadas e brincadeiras típicas dos picadeiros dos antigos circos eram o carro chefe do programa. 

A COP e a presença de tanta gente, desgraçadamente, me faz lembrar desse velho programa circense – muita piada de mal gosto e nenhum resultado prático para as questões ambientais cada vez mais urgentes. O relatório final da reunião apresentou uma infinidade de boas intenções e propostas de mudanças para o futuro. 

Eu estou mesmo é interessado em saber o custo dessa farra das arábias com dinheiro público, o nosso suado dinheirinho. Como o palhaço Torresmo costumava repetir – “hoje tem marmelada… tem sim senhor”. E haja marmelada para tanto turista de ocasião… 

Enquanto a resposta não vem, desejo a todos os nossos leitores um Feliz Natal e os desejo de um 2024 com bastante prosperidade e mais seriedade dos nossos governantes! 

Abraços a todos!

FUMAÇA DAS QUEIMADAS NO PANTANAL ATINGE AS REGIÕES SUL E SUDESTE 

Essas imagens mostram também o avanço da fumaça dessas queimadas para regiões cada vez mais distantes do bioma, com destaque para os Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Norte do Rio Grande do Sul. Regiões da Bolívia e do Paraguai também estão sendo atingidas pela fumaça. 

De acordo com informações do LASA – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais, da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, mais de 1 milhão de hectares do Pantanal já foram consumidos neste ano. Essa área é três vezes maior do que foi perdido no bioma em 2022. 

Dados do INPE mostram que o bioma teve 3.024 registros de focos de incêndios apenas nos primeiros 15 dias desse mês de novembro. Além da emissão de grandes volumes de fumaça, o avanço dessas queimadas ameaça uma das maiores biodiversidades de nosso país. 

O Pantanal Mato-grossense é uma das maiores planícies alagáveis do mundo – em anos de cheias excepcionais, a área alagada se aproxima dos 250 mil km², o que equivale a 3% do território brasileiro ou a uma área equivalente ao Estado de São Paulo. Esse imenso “território das águas” se estende pelo Sudoeste do Estado de Mato Grosso e Oeste do Mato Grosso do Sul, englobando também áreas no Paraguai e na Bolívia – nesses países é conhecido como El Chaco

Nesse ambiente todo especial, a vida pulsa intensamente por todos os cantos. Já foram catalogadas mais de 650 espécies de aves, 80 espécies de mamíferos, 50 espécies de répteis e mais de 260 tipos diferentes de peixes. A vegetação combina espécies da Floresta Amazônica, do Cerrado e da Mata Atlântica, além de uma infinidade de espécies endêmicas, adaptadas para a vida nesta grande área alagável.   

Muitos dos leitores devem se lembrar da enorme repercussão internacional que esse fenômeno desencadeou por todo o mundo. Destaco a fala do Presidente da França, Emmanuel Macron, que disse com todas as letras que “a nossa Amazônia está sendo transformada em cinzas”. 

Também precisamos relembrar de “figuras” como Greta Thunberg, Leonardo di Caprio e Cristiano Ronaldo, que fizeram postagens nas mídias sociais e falaram muito sobre a destruição do “pulmão do mundo”. 

A situação atual das queimadas na Amazônia e no Pantanal Mato-grossense é ainda pior do que naquele ano – onde estão as vozes desses defensores do meio ambiente? 

QUEM DIRIA – UMA TEMPESTADE DE AREIA EM MANAUS 

“… Enquanto enchia o pote com a valiosa água, o jovem contemplou a silhueta das imensas dunas no horizonte que começavam a se destacar com a chegada da luz da manhã– a jornada com sua tropa através do deserto não seria nada fácil. Os dias de viagem seriam muitos, enfrentando o calor escaldante e a secura do deserto de Marajó.” 

Essa é uma das frases iniciais de um conto de ficção ambiental que escrevi há alguns meses atrás para um concurso literário de uma organização ambientalista internacional. A trama, que tem o título de “Muiraquitã”, se passa em meados do século XXII, na região onde hoje encontramos a Ilha do Marajó. Mudanças climáticas levaram ao sufocamento da floresta e dos rios por imensas dunas de areia. 

Uma notícia dos últimos dias mostrou que essa “profecia do capadócio”, lembrando aqui do genial escritor Fernando Sabino, não está tão longe de se confirmar. A cidade de Manaus, localizada no coração da Floresta Amazônica, foi surpreendida por uma tempestade de areia no início dessa semana. 

Esse tipo de tempestade é relativamente comum em áreas semiáridas e desérticas de todo o mundo. Fortes rajadas de vento levantam a poeira fina dos solos desnudos e lançam esse material particulado a longas distâncias. Em filmes coma “A Múmia” e “Missão Impossível” você vai encontrar boas representações desse fenômeno climático. 

Agora, imaginar uma tempestade de areia no meio da Amazônia só seria possível através de obras de ficção científica. Existe, porém, uma explicação bastante simples para o fenômeno – a fortíssima seca que se abateu na região nos últimos meses. 

Ou seja – a tempestade de areia que se abateu sobre Manaus foi algo bem excepcional e, conforme as chuvas voltem a cair na região da Bacia Amazônica, as coisas devem voltar à normalidade. 

Entretanto, é bom deixar um alerta, mudanças climáticas globais poderão alterar fortemente o ciclo de chuvas na Amazônia e fenômenos desse tipo poderão se tornar cada vez mais frequentes. Quiçá nunca chegue ao ponto de transformar parte da região em um deserto de dunas de areia. 

O nosso planeta é, essencialmente, uma entidade “viva” e em constante mudança. E nós, seres humanos, estamos dando uma “forcinha” para que a Terra mude de forma cada vez mais acelerada… 

TEMPESTADE DEIXOU 2,5 MILHÕES DE PAULISTANOS ÀS ESCURAS 

Na última sexta-feira, dia 3 de novembro, a Região Metropolitana de São Paulo foi castigada com uma fortíssima tempestade de verão. Além da intensa chuva, essa tempestade foi acompanhada de fortíssimos ventos. Centenas de árvores caíram por todos os cantos, afetando o fornecimento de energia elétrica e bloqueando ruas e avenidas – um pacote completo de transtornos. 

De acordo com o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, foram registrados mais de 1.280 atendimentos de chamadas relatando a queda de árvores na Região Metropolitana até a meia-noite do dia 3. Também foram notificados 46 casos de desabamentos e dois incidentes de enchentes. Cerca de 2,5 milhões de pessoas ficaram sem o fornecimento de energia elétrica. 

Uma dessas árvores, inclusive, caiu literalmente sobre a minha cabeça. Quando a chuva começou, eu e o pessoal da obra que estou coordenando nos abrigamos sob o telhado da churrasqueira do imóvel. Poucos minutos depois sentimos o estrondo de uma árvore caindo sobre as telhas – a foto que ilustra esta postagem mostra justamente esse incidente. Felizmente, foi só um enorme susto e os danos na estrutura foram mínimos.  

De acordo com informações da Enel, distribuidora de energia elétrica que atende grande parte dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo, cerca de 1 milhão de imóveis tiveram o fornecimento restabelecido até o início da manhã desse domingo, dia 5 de novembro. Segundo a empresa, a normalização total do fornecimento só será completada até a próxima terça-feira, dia 7. 

E foram justamente as quedas de árvores a principal causadora de tantos transtornos. A maior parte da rede elétrica na Região Metropolitana é do tipo aérea, onde a fiação é sustentada por postes. Com a queda das árvores, essa fiação é derrubada. Além de todo o trabalho para cortar e remover as árvores, é preciso reinstalar postes e refazer as ligações elétricas. 

Infelizmente, os incidentes com as árvores causaram tragédias maiores que a falta de energia elétrica. No bairro de Pinheiros, que fica na Zona Oeste da cidade de São Paulo, um carro com 5 passageiros foi atingido por uma dessas árvores e 2 desses passageiros morreram. No total, o temporal deixou 7 mortos no Estado de São Paulo. 

De acordo com o CGE – Centro de Gerenciamento de Emergências, da Prefeitura de São Paulo, a tempestade foi acompanhada de ventos com velocidades superiores a 100 km/hora, os mais fortes registrados desde 1995 na cidade. 

Conforme tratamos com bastante frequência nas postagens aqui do blog, as cidades brasileiras não estão preparadas para a temporada das chuvas. São Paulo, a maior cidade do país, é um dos casos mais visíveis dessa falta de infraestrutura – e esse é um problema multissecular na cidade. 

Além dos problemas criados pelas enchentes, alagamentos e desmoronamento de encostas, os fortes ventos que acompanham essas chuvas estão ficando cada vez mais fortes, o que vem aumentando o tamanho dos estragos. 

A arborização é importantíssima em uma cidade grande como São Paulo. As árvores ajudam a amenizar o calor concentrado nas grandes estruturas de concreto e no asfalto das vias. As plantas também ajudam a melhorar a qualidade do ar. 

Essas árvores precisam de podas frequentes e cuidados especiais contra insetos e outras pragas que afetam a saúde das plantas, cuidados que deixam muito a desejar. Outro problema comum por aqui foi o plantio de espécies inadequadas e com sistemas de raízes grandes demais para as nossas calçadas. 

Na temporada das chuvas esses problemas pipocam por todos os lados. Esse último temporal deixou isso bem claro para todos nós. 

UM DESERTO QUE JÁ FOI CHAMADO DE RIO SOLIMÕES 

Rios são simplesmente fascinantes! 

Eu tenho viva em minha memória as primeiras imagens do rio Pinheiros, o principal afluente do rio Tietê na Região Metropolitana de São Paulo. Minha casa ficava a cerca de um quilômetro da margem do rio e, de vez em quando, acompanhava minha mãe até a área central do bairro, o que nos fazia atravessar a antiga ponte João Dias. 

Olhar aquele “mundaréu” de água era impressionante e sempre me fazia pensar de onde vinha toda aquela água e por que ela nunca parava de fluir. Meu interesse pelos rios e pelos recursos hídricos só fizeram por crescer ao longo dos anos.

Rios são, essencialmente, longos rasgos ou valetas cavadas no solo por onde a água das chuvas é drenada e também por onde fluem as águas que brotam de inúmeras nascentes ao longo do seu curso. Em viagens pelo Semiárido Nordestino conheci vários rios secos ou intermitentes, que mostram da forma mais didática possível o que é uma calha de rio sem uma única gota de água.

As águas dos rios abrigam muita vida – dos mais diferentes tipos de bactérias e microrganismos até peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos aquáticos, além de uma infinidade de plantas. As suas margens também apresentam uma explosão de vida – matas ciliares e de galeria onde uma enorme fauna animal vem diariamente saciar a sua sede. 

Populações humanas também entram nessa “equação” – desde tempos imemoriais perdidos nas brumas de nossa história rios abrigam comunidades humanas em todo o mundo. Grandes civilizações nasceram e cresceram às margens de grandes rios como o Nilo, Tigre e Eufrates, Ganges, Danúbio, Volga, entre muitos outros. 

Um dos casos mais dramáticos, entretanto, é o do rio Solimões, nome que é dado ao rio Amazonas no trecho entre a divisa com o Peru e a Colômbia até o encontro das águas com o rio Negro nas proximidades da cidade de Manaus. Esse trecho do rio tem cerca de 1.200 km de extensão. 

A impressionante imagem que ilustra essa postagem mostra os grandes bancos de areia que surgiram após a forte baixa das águas do rio Solimões. O recorte faz lembrar um viajante cruzando as areias de um grande deserto. 

Além das dificuldades para o transporte de cargas e pessoas – lembrando que os rios formam as “estradas” da Amazônia, essa seca está afetando o abastecimento de água de centenas de milhares de pessoas. 

Aqui faço um destaque – as águas dos grandes rios da Amazônia carregam grandes quantidades de sedimentos e precisam passar por tratamento para poderem ser consumidas pelas populações. Com a seca, as empresas de saneamento não conseguem captar a água e conduzi-la para as estações de tratamento. 

Diferentemente do rio Madeira, que apesar de ter mais de 3,3 mil km de extensão é apenas um dos afluentes, o rio Solimões faz parte do canal central de drenagem da bacia hidrográfica. Se o canal desse rio está seco, isso é sinal de que uma enorme área geográfica está com baixíssimos níveis de água. 

A Bacia Amazônica ocupa uma área com mais de 7 milhões de km², onde se encontram mais 1.000 afluentes – alguns destes afluentes, como o Negro e o Madeira, entram na lista dos 10 maiores rios do mundo.  Algo entre 12 e 20% de toda a água doce do mundo (os números variam conforme a fonte consultada) circula através dos rios dessa fabulosa bacia hidrográfica. 

Por se tratar de um fenômeno climático global, não há muito o que se fazer contra o El Niño. Entretanto, precisamos acompanhar o desenrolar dessa seca e verificar se não existem outras causas para uma estiagem tão forte na região – algumas fontes afirmam que essa é a maior seca em 100 anos. 

Será que não tem um “dedinho” das mudanças climáticas globais nesse evento? 

Essa é uma pergunta incômoda que precisará ser respondida o quanto antes… 

UMA SECA HISTÓRICA NO RIO MADEIRA

Nas últimas horas, a Ministra do Meio Ambiente – Marina Silva, veio a público pedir que a população da região não faça queimadas, as tradicionais coivaras usadas para a preparação dos solos para o plantio de culturas de subsistência pelas populações mais pobres. Em suas palavras, essa é a principal fonte da fumaça que assola a região.

Sem querer polemizar sobre a questão, sempre comentamos aqui em nossas postagens que uma parte expressiva das “queimadas” da Amazônia que tanto preocupam o mundo vem dessas coivaras feitas por pequenos e pobres agricultores. 

Eu, particularmente, tenho um relacionamento bastante pessoal com esse rio – eu morei em Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, por quase dois anos e me acostumei com a presença do Madeira nas paisagens locais. Na época das chuvas, com a cheia do rio, existia sempre o temor de um transbordamento e a inundação de áreas baixas da cidade e comunidades ribeirinhas. 

Durante a vazante ou período da seca, as preocupações giram em torno das dificuldades de ligação fluvial com outras cidades da Amazônia. Diferentemente do resto do país, na Amazônia são os rios que assumem o papel de estradas para o transporte de passageiros e de cargas. Entre altos e baixos, nunca imaginei ver o rio nessa situação.

O rio Madeira tem uma extensão total de 3.315 km, o que o coloca na lista dos maiores rios do mundo. O rio Beni é o mais extenso formador do rio Madeira, com nascentes no alto da Cordilheira do Andes na Bolívia. Depois de atravessar um longo trecho do país vizinho, o rio Beni se encontra com os rios Mamoré e Guaporé, formando o rio Madeira na divisa do Brasil e da Bolívia.  

Na altura da cidade de Porto Velho, o rio Madeira chega a ter uma profundidade da ordem de 18 metros no período das cheias, o que dá aos leitores uma vaga ideia da situação dramática do rio nas últimas semanas. Grandes brancos de areia e pedrais – afloramentos rochosos, estão por toda parte, tornando a navegação num grande risco. 

O verão amazônico, período de seca e muito calor na região, vai até o final do ano, quando as chuvas começam a cair novamente. Todos esses problemas tendem a aumentar muito até lá.